Com o surgimento dessa crise, as grandes imobiliárias, empresas de grande porte, se viram forçadas a diminuir os seus quadros de vendas. Com isso foram desligadas de suas equipes centenas de corretores, ocasionando o que denominamos de "crise de identidade".
Desligados das empresas, e com o mercado de lançamento muito ofertado, esses profissionais "caíram" no mercado de imóveis usados para tentar sobreviver. Daí surgiram as pequenas imobiliárias, cujos titulares eram profissionais mais bem preparados para o mercado. Os demais "caíram" no mercado, fazendo de tudo que podiam para sobreviver, tentando ganhar a vida e manter suas famílias. Aconteceu, então, o pior para o nosso mercado de imóveis usados (avulsos). Esses corretores, que na época chamávamos "corretores de calçadas", ou seja, corretor sem escritório, começaram a aceitar os imóveis para vender "sem exclusividade", cobrando qualquer comissão e trabalhando sem a menor garantia. Ora, por que o proprietário daria a opção exclusiva a um corretor, se a maioria dos corretores aceitava trabalhar sem exclusividade e até com opção verbal? Assistimos, por mais uma vez, a proprietários usando esse argumento.
A partir dessa época, nunca mais o mercado obteve opção exclusiva dos proprietários e ficamos na situação atual do Rio de Janeiro, onde mais de noventa por centro dos imóveis são vendidos sem opção exclusiva, no "vermelho", como se fala na gíria do mercado imobiliário. Às vezes, surge um mesmo apartamento tentando ser vendido por quatro ou cinco corretores e até por várias imobiliárias, ao mesmo tempo. O que é pior: todos anunciando um mesmo imóvel ao mesmo tempo. Ficam, assim, os corretores sem a garantia do seu trabalho (falta de exclusividade); os proprietários sem a dedicação integral do corretor e os compradores sem a garantia de que podem comprar o imóvel de que gostaram, pois, enquanto se está negociando a compra com um corretor, o proprietário poderá estar vendendo o mesmo imóvel a outro comprador, através de outro corretor. Isto não é bom para nenhuma das partes envolvidas e conseqüentemente para o mercado imobiliário.
Veja quantas dificuldades! Se o proprietário não dá exclusividade, o corretor não se dedica cem por cento, por não ter garantia para o seu trabalho nem a certeza de que receberá a sua comissão. E há aspectos ainda mais graves: o proprietário chega a declarar-nos que não dá exclusividade porque tem pressa de vender e não quer ficar preso por trinta dias com um corretor apenas. Ora, o proprietário que assim age está esquecendo que, sem a obtenção de uma exclusividade total para vender, o corretor não colocará interesse em investir em anúncios (hoje muito caros) e no trabalho de venda. Além disso, o proprietário se esquece de que tudo que é ofertado demais perde o interesse, perde o valor. Funciona mais ou menos como uma "mulher da vida": por ser muito oferecida fica desvalorizada.
O imóvel à venda sem exclusividade é semelhante: fica muito oferecido, muito falado, todo mundo no mercado já o conhece, então cai no descrédito e demorará mais a vender. Comparando com a "mulher da vida": ela geralmente não se casa ou demora a casar-se; o imóvel também é assim, ou não vende ou levará tempo para ser, finalmente, vendido.
- por Ari Travassos
O artigo acima "Imóvel muito oferecido" (capítulo 21, página 78) está no livro de Ari Travassos - Compra e Venda de Imóveis – Dicas & Segredos, da Editora Cop.
O artigo acima "Imóvel muito oferecido" (capítulo 21, página 78) está no livro de Ari Travassos - Compra e Venda de Imóveis – Dicas & Segredos, da Editora Cop.
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